Em nossa sociedade capitalista, a competição é sinônimo de luta, de conflito, de oposição. É sinônimo de uma "guerra" antipática para vencer o outro, destruindo-o, desestruturando-o, se possível. O capitalismo, como qualquer sistema humano (embora não focado no Ser Humano), constrói suas próprias representações, dá seu próprio sentido às palavras e aos contextos. Em nosso processo de socialização nos deparamos com expressões que ganham um sentido particular e conveniente para os interesses do sistema capitalista. E esse "mundo" é internalizado e de difícil detecção por nós ao longo da vida, uma vez que ele é reforçado em todas as instituições e grupos formais e não-formais que participamos.
Um exemplo de uma palavra cujo sentido foi distorcido historicamente pelo capitalismo e, como se não bastasse, ainda foi usado como um dos pilares lógicos de sua existência, é o termo “competição”. A origem dessa palavra é anterior à formação do sistema capitalista e, graças a esse "detalhe", pode-se resgatar seu significado verdadeiro e, com ele, questionar, ampliar o sentido do que nos foi imposto como realidade inquestionável, restrita e empobrecida.
O termo “competição” deriva do latim competere - uma coisa ir ao encontro de outra, ser adequado, pertencer; petere significa dirigir-se a um lugar, aspirar; ansiar por uma contínua superação. O prefixo com- é junto, unido. Então temos, competere = ir a algum novo lugar com alguém, auxiliado por alguém. Por isso, o sentido da competição é que um indivíduo se torne adequado, apto para enfrentar os desafios que a vida nos apresente, superando-se (competência) a partir de uma ajuda mútua com outros.
Percebe-se a diferença entre o sentido original da palavra e o que foi inculcado em nós ao longo de nossa vida.
Toda competência é encontro. No encontro, duas ou mais pessoas se "confrontam", "chocam-se" para elevar-se mutuamente de posição em que se acham. Assim, encontro é co-participação, intercâmbio e crescimento. Daí decorre que a competição deveria ser vivida, assumida e dignificada como uma excelente forma de cooperação.
Competir é Cooperar!
Cooperar é trabalhar com. É colaboração mútua. É ser sócios na construção da catedral existencial em que nós, cada ser humano, deveríamos transformá-nos.
Dois rivais, ao competir entre si, estão exigindo e exigindo-se a dar o melhor de si. Ninguém como o adversário nos incita a chegar ao cume de nosso verdadeiro valor. Esse deveria ser o enfoque.
Desse modo, o adversário perde a máscara de inimigo fortíssimo e nele se desvela o rosto de um insubstituível e insuspeitado aliado.
O "oponente" é, mal comparando, como o piso que, ao oferecer-nos resistência, nos dá a possibilidade de afirmar-nos e, assim, continuar nosso caminho. Sobre um piso delicado demais, frouxo, que não opõe resistência, torna-se impossível caminhar, porque afundamos, caimos, tropeçamos.
Infeliz aquele que nunca encontra oposição naquilo que realiza, pois precisará de incentivo e apoio para desenvolver-se. Por isso, como afirma o Dr. Mariano Grondona, a competição é o estímulo para que se consiga ser o próprio eu, ser eu mesmo.
O "oponente", como o piso, não imprime direção ao movimento que estamos desenvolvendo, pois a direção é determinada pela própria pessoa.
Dessa maneira, a competição, não é mais que uma excelente oportunidade de dar o melhor de si mesmo, de manifestar o dom de pessoa que cada um traz consigo.
Como não ficar feliz se estou tendo uma oportunidade de superar-me, colaborando com outros?
O homem medíocre considera a competição como destruição.
O homem elevado concebe a competição como superação.
O homem superior julga a a competição como cooperação.
por isso:
Para o homem medíocre, o oponente é um inimigo.
Para o homem elevado, o oponente é um adversário.
Para o homem superior, o oponente é um aliado.
Temos, então, uma oportunidade excelente e inédita de desconstruir um sentido e construir outro. Um novo sentido mais humanizante, mais colaborativo, infinitamente mais sociável. Um sentido para o competir onde se vê refletido o crescimento pessoal em um processo contínuo de desenvolvimento mais amplo e pleno, de um crescimento social e individual. Percebendo e vivenciando esse aperfeiçoamento como causa e não como consequência distorcida pelo sistema capitalista.
Um grande abraço e espero que você possa enviar suas críticas e pontos de vista sobre esse assunto.
Esse texto foi fortemente baseado no livro de Gabriel Jorge Castellá, 20 Formas Sadias de Responder ao Insulto.