domingo, 27 de abril de 2008

Um diagnóstico da Solidão

Quando estamos sozinhos, normalmente ansiamos pela companhia ou pelo amor de outra pessoa. Ficamos tristes, achando que estaríamos mais felizes se tivéssemos alguém em nossas vidas. Queremos ser amados por uma outra pessoa. Surge uma urgência em ser amado. Essa urgência é sinal de que estamos com medo de não sermos amados em tempo. É como se uma porta estivesse se fechando e precisássemos correr para pular para fora antes que ela se feche para sempre. Na verdade, essa urgência em ser amado ou amada gera um fechamento inconsciente à possibilidade de ser amado(a). Em algum lugar no fundo de nossas mentes está o medo do amor e/ou o medo do que significará ser amado. Podemos já ter sido magoados, abandonados ou rejeitados no passado, e embora consigamos nos convencer de que isso tudo já passou, o fato de estarmos sós prova o contrário. Ficamos sem vontade ou incapazes de receber o que mais desejamos por medo do que poderá acontecer.
A solidão consiste em se fechar àquilo que você mais quer. Você não pode ter amor de seu coração está fechado. Não pode ter liberdade se não dispõe a fazer escolhas. Não pode ter prosperidade se tem medo dela. Não pode ter paz se acha que ela significa abrir mão de algo essencial à sua sobrevivência. A ausência de todos essas potenciais virtudes está na raiz da sensação de solidão. Na maioria do tempo, não nos damos conta de que estamos fechados. E, como não sabemos disso, ficamos procurando e desejando justamente aquilo que acreditamos não merecer. Este é o verdadeiro significado da solidão. Nós nunca nos sentimos sós com relação a uma pessoa ou coisa, mas quando estamos buscando uma experiência que acreditamos não poder ter. Quando você perceber que está se sentindo só, abra o seu coração. Peça para ser inundado(a) de amor. Quando sentir esse amor, respire algumas vezes, conscientemente. Deixe o amor invadir todo o seu ser. Quando conseguir isso, abra o seu coração para a experiência do amor, e tudo o que você acha que deseja surgirá, de forma até milagrosa.
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Texto baseado no livro de Iyanla Vanzant, "Um Dia Minha Alma Se Abriu Por Inteiro"

sábado, 26 de abril de 2008

COMPETIÇÃO

Em nossa sociedade capitalista, a competição é sinônimo de luta, de conflito, de oposição. É sinônimo de uma "guerra" antipática para vencer o outro, destruindo-o, desestruturando-o, se possível. O capitalismo, como qualquer sistema humano (embora não focado no Ser Humano), constrói suas próprias representações, dá seu próprio sentido às palavras e aos contextos. Em nosso processo de socialização nos deparamos com expressões que ganham um sentido particular e conveniente para os interesses do sistema capitalista. E esse "mundo" é internalizado e de difícil detecção por nós ao longo da vida, uma vez que ele é reforçado em todas as instituições e grupos formais e não-formais que participamos.
Um exemplo de uma palavra cujo sentido foi distorcido historicamente pelo capitalismo e, como se não bastasse, ainda foi usado como um dos pilares lógicos de sua existência, é o termo “competição”. A origem dessa palavra é anterior à formação do sistema capitalista e, graças a esse "detalhe", pode-se resgatar seu significado verdadeiro e, com ele, questionar, ampliar o sentido do que nos foi imposto como realidade inquestionável, restrita e empobrecida.
O termo “competição” deriva do latim competere - uma coisa ir ao encontro de outra, ser adequado, pertencer; petere significa dirigir-se a um lugar, aspirar; ansiar por uma contínua superação. O prefixo com- é junto, unido. Então temos, competere = ir a algum novo lugar com alguém, auxiliado por alguém. Por isso, o sentido da competição é que um indivíduo se torne adequado, apto para enfrentar os desafios que a vida nos apresente, superando-se (competência) a partir de uma ajuda mútua com outros.
Percebe-se a diferença entre o sentido original da palavra e o que foi inculcado em nós ao longo de nossa vida.
Toda competência é encontro. No encontro, duas ou mais pessoas se "confrontam", "chocam-se" para elevar-se mutuamente de posição em que se acham. Assim, encontro é co-participação, intercâmbio e crescimento. Daí decorre que a competição deveria ser vivida, assumida e dignificada como uma excelente forma de cooperação.
Competir é Cooperar!
Cooperar é trabalhar com. É colaboração mútua. É ser sócios na construção da catedral existencial em que nós, cada ser humano, deveríamos transformá-nos.
Dois rivais, ao competir entre si, estão exigindo e exigindo-se a dar o melhor de si. Ninguém como o adversário nos incita a chegar ao cume de nosso verdadeiro valor. Esse deveria ser o enfoque.
Desse modo, o adversário perde a máscara de inimigo fortíssimo e nele se desvela o rosto de um insubstituível e insuspeitado aliado.
O "oponente" é, mal comparando, como o piso que, ao oferecer-nos resistência, nos dá a possibilidade de afirmar-nos e, assim, continuar nosso caminho. Sobre um piso delicado demais, frouxo, que não opõe resistência, torna-se impossível caminhar, porque afundamos, caimos, tropeçamos.
Infeliz aquele que nunca encontra oposição naquilo que realiza, pois precisará de incentivo e apoio para desenvolver-se. Por isso, como afirma o Dr. Mariano Grondona, a competição é o estímulo para que se consiga ser o próprio eu, ser eu mesmo.
O "oponente", como o piso, não imprime direção ao movimento que estamos desenvolvendo, pois a direção é determinada pela própria pessoa.
Dessa maneira, a competição, não é mais que uma excelente oportunidade de dar o melhor de si mesmo, de manifestar o dom de pessoa que cada um traz consigo.
Como não ficar feliz se estou tendo uma oportunidade de superar-me, colaborando com outros?
O homem medíocre considera a competição como destruição.
O homem elevado concebe a competição como superação.
O homem superior julga a a competição como cooperação.
por isso:
Para o homem medíocre, o oponente é um inimigo.
Para o homem elevado, o oponente é um adversário.
Para o homem superior, o oponente é um aliado.
Temos, então, uma oportunidade excelente e inédita de desconstruir um sentido e construir outro. Um novo sentido mais humanizante, mais colaborativo, infinitamente mais sociável. Um sentido para o competir onde se vê refletido o crescimento pessoal em um processo contínuo de desenvolvimento mais amplo e pleno, de um crescimento social e individual. Percebendo e vivenciando esse aperfeiçoamento como causa e não como consequência distorcida pelo sistema capitalista.
Um grande abraço e espero que você possa enviar suas críticas e pontos de vista sobre esse assunto.
Esse texto foi fortemente baseado no livro de Gabriel Jorge Castellá, 20 Formas Sadias de Responder ao Insulto.

OS NOVOS TERRORISTAS DA MÍDIA

por Marcelo Salles (*)

Poucas vezes uma reportagem a respeito do MST foi tão distorcida quanto a do Jornal Nacional da última quarta-feira (dia 09 de abril). Nos dois minutos e vinte e quatro segundos da matéria, busca-se a criminalização dos camponeses; para tanto, imagens e palavras são cuidadosamente articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que os militantes do movimento são os responsáveis por todo o medo que ronda os paraenses.
Logo na abertura da matéria, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora. Quando os militantes aparecem nas imagens, estão montando o acampamento e utilizando folhas de palmeiras - naturalmente já arrancadas das árvores. Quando a matéria corta para ouvir a opinião de um empresário local, ele tem ao fundo exatamente uma folha de palmeira, só que firme no solo - vistosa e viva. O representante da Vale do Rio Doce é o que tem mais tempo para se manifestar, até gagueja e balbucia: "esses movimentos... estão [nos] impedindo de trabalhar". Em nenhum momento os representantes do MST são ouvidos, o que contraria, inclusive, as próprias regras do manual de jornalismo da Globo. Mas quando os interesses comerciais de empresas amigas estão em jogo essas regras são postas de lado.
Outro dado marcante desta reportagem é a descontextualização dos fatos. O telespectador é apenas informado que o MST “ameaça invadir a Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale”, mas não se explica que esta ação direta tem uma origem: a privatização fraudulenta da empresa que era estatal. A companhia foi leiloada, em 1997, por R$ 3,3 bilhões. Valor semelhante ao lucro líquido da empresa obtido no segundo trimestre de 2005 (R$ 3,5 bi), numa clara demonstração do prejuízo causado ao patrimônio nacional. Desde então, cidadãos e cidadãs vêm promovendo manifestações políticas e ações judiciais que têm por objetivo chamar a atenção da sociedade e sensibilizar as autoridades competentes para anular o processo licitatório. Se há uma diferença brutal entre discordar de uma determinada opinião e omiti-la, este caso torna-se ainda mais grave porque não se trata de uma opinião, e sim de um fato político: a privatização da Vale é questionada na Justiça – e com grandes chances de ser revertida. Ao sonegar esta informação, a Globo comete um crime.
Com a mesmíssima parcialidade age o jornal carioca O Globo. A reportagem publicada no mesmo dia sobre o MST não deixa dúvidas quanto a posição contrária do jornal. A chamada na capa diz: “MST desafia a Justiça e volta a ameaçar a Vale”; o pequeno texto, logo abaixo, aprofunda a toada: “O MST ameaça descumprir ordem judicial e invadir novamente a ferrovia de Carajás, da Vale, no Pará. Moradores da região estão atemorizados, com a cidade cercada por mais de mil militantes do MST, a quem acusam de terrorismo”. A reportagem principal, à página 9, é acompanhada de outra de igual tamanho. Ambas ouvem apenas a versão da mineradora privatizada pelo governo tucano de FHC. Imediatamente abaixo, como a reforçar a visão policialesca, uma fotografia de um homem morto sobre o título: “Em Porto Alegre, um flagrante de homicídio”. Nenhum dos dois veículos (O Globo e JN) registrou o apoio recebido pelo MST por artistas, intelectuais e lideranças partidárias.
Esta falsa preocupação do Globo com a defesa do povo brasileiro não é de agora. O mesmo jornal, que sugere que os militantes do MST são terroristas, há 44 anos agiu da mesma forma quando um golpe de Estado derrubou o presidente constitucional João Goulart. Em texto editorial do dia 2 de abril de 1964, o “Globo” assinalou:
“- Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas (...) para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas (...), o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições (...)
Assim como para o “Globo” os inimigos do passado eram aqueles que se insurgiam contra a ditadura que seqüestrou, torturou e matou milhares de brasileiros, hoje os terroristas são aqueles que lutam contra as multinacionais que roubam o patrimônio público, danificam o meio-ambiente e produzem graves problemas sociais. É por isso que ao interromper o fluxo de exportação de uma dessas empresas os militantes do MST acertam em cheio no sistema nervoso do capitalismo. Dotados apenas de enxadas e coragem, os sem-terra enfrentam jagunços armados, policiais e poderosos grupos de comunicação – esse coquetel que tem como objetivo massacrar o povo organizado. Os militantes do MST ensinam ao povo brasileiro: não é uma luta justa, mas é uma luta que pode ser vencida.
Por outro lado, o jornalismo dos Marinhos mais uma vez revelou seu caráter covarde e submisso. Aliou-se aos poderosos e rasgou o juramento profissional da categoria, sobretudo no seguinte trecho: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade". Mas não há de ser nada. A História vai se ocupar de reservar a cada qual seu devido lugar.
(*) Marcelo Salles é correspondente da Caros Amigos no Rio de Janeiro e editor do jornal Fazendo Media (www.fazendomedia.com).